Além (da) Imagem

Wherá Tupã na Opy
Frame extraído do filme

Processo criativo do curta “Wherá Tupã e o Fogo Sagrado” (2021)

Meu primeiro contato com uma aldeia guarani aconteceu em fevereiro de 2013. Naquele tempo, cursava cinema na UFSC e fui convidado pelo grupo Pachorra Teatro Livre para fazer a filmagem do espetáculo “A origem das estrelas ou a revolta da pamonha”, que foi apresentado na comunidade guarani Yyn Moroti Wherá – Brilho das Águas Cristalinas, localizada em Biguaçu – SC, nas margens da BR. No fim de semana seguinte, estávamos participando da cerimônia que ocorreu dentro do opy (casa de reza).

O caminho que percorri da minha casa até o opy foi também um deslocamento no tempo. Durante a cerimônia entrei em contato com uma sensibilidade sutil e profunda, enraizada na ancestralidade guarani, que se apresentava de modo pungente especialmente na cura realizada pelo karai (liderança espiritual) Alcindo Wherá Tupã.

Em um determinado momento da cerimônia, foi colocado um banquinho de madeira em frente ao fogo, uma pessoa sentou-se para ser atendida por Wherá Tupã. Eu observava a cena do meu lugar sentado no chão, os movimentos que o karai, de olhos fechados, fazia com as mãos sobre o nhe’e rete (conjunção entre corpo e espírito) da pessoa parecia agir também sobre o meu corpo. Tive uma sensação de mal-estar, como se algo revirasse dentro de mim, logo vomitei. Seu Alcindo Wherá Tupã, com as mãos e a fumaça do petyngua (cachimbo), limpava o nhe’e rete do paciente, através da chupada extraía algo invisível, que era materializado em pedrinhas. No canto final, em frente ao fogo, Wherá Tupã desmaterializou as pedrinhas de suas mãos.

No final da cerimônia, antes de ir embora, fui até a casa dele conversar um pouco. Falei que senti vontade grande de fazer um filme sobre a cura. Ele me olhou fundo nos olhos, mantendo-se em silêncio por um tempo, e disse: “você pode fazer, mas não dá para ser qualquer coisa, tem que ser bem feito”.  Esse filme é o curta metragem “Wherá Tupã e o Fogo Sagrado”, que filmamos em 2019, com projeto contemplado pelo Prêmio Catarinense de Cinema 2018, o filme está finalizado e iniciará o seu caminho pelos festivais nacionais e internacionais.  Eu o dirigi e montei, Seu Alcindo, junto ao filho Wanderley, assinam comigo a concepção do filme, construído após uma série de conversas sobre como abordar o trabalho espiritual feito por Wherá Tupã.

Rafael (diretor) e Wherá Tupã (Foto de Arantxa Pellme, produtora)
Rafael (diretor) e Wherá Tupã (Foto de Arantxa Pellme, produtora)

Seguir adiante com a vontade de fazer um filme sobre a cura, sendo eu e grande maioria da equipe djurua (não-indígena), é dispor-se a atravessar um limiar muito delicado, caminho carregado de conflitos. Muitas vezes, o Wanderley me relembrou que ter a permissão para filmar a cura é um tabu que está sendo quebrado na cultura, e se algum dia a cura chegou a ser filmada esse registro nunca foi divulgado. Seu Alcindo Wherá Tupã, karai de 111 anos, foi o primeiro que abriu o opy aos djurua, pois sentiu que esses deveriam conhecer a cultura guarani de perto. Isso ocorreu há 21 anos, abertura esta que não aconteceu em muitas das aldeias Guarani que ainda tem opy. Ele e sua falecida esposa, Dona Rosa Potydjá, perceberam ser necessário construir um outro vínculo com os djurua, de modo que as diferentes culturas se retroalimentassem, cada qual com as suas singularidades, acarretando aprendizado e evolução para os dois lados.

Essa relação está sendo constantemente problematizada por Seu Alcindo. À medida que o karai é o alicerce principal sobre o qual é sustentada a cosmovisão da cultura Guarani, o portador da sabedoria que é repassada oralmente de geração em geração desde os primórdios desse povo, é também o mediador entre o mundo dos homens e dos deuses, responsável por fazer as curas e dar o nome espiritual das crianças no batismo. O contato com os djurua, desde a colonização, certamente é o principal acontecimento que dificultou a repetição do nhandereko (regra, costume, modo-de-viver) desse povo. Segundo eles, não é possível aos Guarani praticar o nhandereko do modo como os seus ancestrais faziam. Contudo, os anciões perceberam que, na situação atual, já não era possível viverem apartados dos djurua. Na esperança de aproximarem-se do nhandereko e preservá-lo, alguns Guarani aprendem a escrever, estudam na universidade, lutam por seus direitos, participando da vida na cidade, tentando compreender melhor o pensamento dos djurua e buscando apresentar a cultura Guarani para que os djurua tenham melhor entendimento a seu respeito e, assim, passem a respeitá-la.

Um dos impactos do distanciamento do nhandereko entre os guarani pode ser atestado nas novas gerações de karai. Seu Alcindo Wherá Tupã disse que as novas gerações de karai não têm mais a força espiritual que os karai kuery (os líderes espirituais) tinham antigamente, assim como a quantidade de doenças e mortes aumentou drasticamente. Ele conta que antes quase não se via doença; as doenças letais, então, eram muito raras, quando alguém estava doente curava-se no opy com os cantos, danças, petyngua (cachimbo), e havia vários karai muito potentes para curar. Há tempos a medicina dos não indígenas é utilizada para tratamento de doenças nas aldeias, porém, além disso, Seu Wherá Tupã também mantém diálogo com alguns profissionais da saúde, buscando um caminho de fortalecimento que abarque esses distintos saberes, potencializando-os e alcançando melhores resultados para a saúde da comunidade.

Ao longo dos oito anos desde que Seu Alcindo me permitiu fazer esse filme, minha compreensão foi amadurecendo, não se tratava só de um filme sobre a cura feita pelo karai, mas também de um filme sobre o Fogo Sagrado.  Segundo Seu Wherá Tupã, o Fogo Sagrado tem dono, nós estávamos mexendo com o que é do Nhanderu (Nosso Pai) e isso não era brincadeira. Toda permissão e possibilidade de avanço para realizar o filme passava por um circuito de troca que envolvia a presença das próprias divindades ancestrais dos Guarani. Os conselhos simples e pontuais que Seu Wherá Tupã dava para nossa equipe eram instruções práticas para o nosso dia a dia. Ele previu e nos contou sobre provas que teríamos no caminho e sobre como caminhar bem mesmo diante de todas as dificuldades, tendo coragem e força espiritual, sempre relembrando das divindades, fortalecendo esse vínculo com o povo do alto para que Eles possam estar olhando por nós, visto que são capazes de ler os nossos corações e as intenções ali depositadas, assim como as nossas ações e postura diante a vida. Por isso a ênfase de Seu Wherá Tupã de que não se tratava de uma brincadeira, mas algo muito sério, onde seríamos testados e teríamos que ter firmeza para com o propósito que iniciamos.

Um exemplo desse circuito de troca com as divindades ocorreu quando fomos filmar uma cena no opy e um enorme estrondo de trovão ocorreu durante a gravação. Seu Wherá Tupã disse que os Tupã (divindades) haviam passado por ali e estavam vistoriando todo o nosso movimento, pois a equipe estava mexendo com um Fogo que é Deles. Disse também que os Tupã deixaram uma mensagem dizendo que em um dia específico estariam de volta. Na data mencionada, realizamos a segunda etapa de filmagem, quando filmamos as cenas da cura que não aconteceu na primeira etapa. A data de retorno da nossa equipe ainda não havia sido informada aos guarani, ela foi comunicada através das divindades neste momento do trovão. Além disso, o ancião nos disse que as divindades nos fotografaram e que se a equipe fosse alterada, no próximo retorno Deles, teríamos um “desconto”, no sentido de perda, na relação sustentada entre nossa equipe com o povo do alto.

Lipe Tortoro (diretor de produção) mostrando as filmagens para as crianças (Foto de Arantxa Pellme)
Lipe Tortoro (diretor de produção) mostrando as filmagens para as crianças (Foto de Arantxa Pellme)

Para Seu Wherá Tupã isso era como uma prova no nosso caminho, deveríamos permanecer unidos e atentos enquanto equipe, o “desconto” ou a “perda” imaginei ser a impossibilidade de gravar a própria cura, à medida que o propósito da segunda etapa era esse. O fato é que já sabíamos dessa notícia e a nossa relação enquanto equipe sempre foi boa e forte, nunca imaginei que isso poderia acontecer, contudo, diante de diversos mal entendidos, as coisas foram se desenhando para o afastamento de uma pessoa da equipe, até que, no último momento, relembramos essa história e resolvemos as discordâncias, continuamos com a mesma equipe até o final, hoje está tudo certo e o ocorrido nos fortaleceu.

Um dos acontecimentos que também abriu os caminhos em direção ao filme foi o batismo guarani com a minha família: Rafaela Herran, Nhamandu Coelho e Wherá Coelho. Nós nos aproximamos muito da aldeia, construímos uma rede de amizade com os indígenas e com os djurua que mantêm esse elo com a comunidade, e boa parte dessas pessoas fizeram parte da equipe de filmagem. Em 2015, dois anos após a minha primeira visita à aldeia, eu, Rafaela e Nhamandu fomos batizados em frente ao Fogo Sagrado e recebemos do karai o nosso nome espiritual, o nome do Nhe’e (palavra-alma). Depois disso, tivemos maior acolhimento e confiança pelas pessoas da aldeia, como se pertencêssemos a uma grande família, aumentando também a nossa compreensão, sensibilidade e responsabilidade no caminho de aproximação e vínculo sustentado com o nosso próprio Nhe’e, e, consequentemente, com o opy (casa de reza), que é o espaço privilegiado para se estabelecer o contato com as divindades, lugar de trânsito e de reunião dos Nhe’e, espaço de circulação das palavras (ayvu) que fortalecem, são imperecíveis (marã e’ỹ).

Nhe’e é o princípio anímico, de origem celeste, na pessoa, comumente traduzido por voz, espírito guardião, porção divina da alma, ou alma-palavra, eles descem à Terra provenientes das regiões celestes onde moram as divindades Guarani, os Nhanderu kuery. São eles que erguem o corpo sobre a Terra e o fazem caminhar e é neles que se encontra a palavra, a possibilidade da fala. Nhe’e kuery se comunicam com aqueles que são capazes de ouvi-los, passando as instruções de como se deve levar a vida, transmitindo o nhandereko aos guarani.

Nhanderu deixou aos Guarani o nhandereko quando ele os gerou e os enviou à Terra, o nhandereko guarani é praticamente tudo o que se vive e como se vive na aldeia e fora dela e o que constitui a maior parte das explicações sobre o nhandereko é a importância de repetir na Terra o que os deuses fazem em suas moradas. Repetir o nhandereko é trilhar um caminho novo para cada um, cheio das pegadas dos ancestrais, através do qual se pode criar para si um corpo mais potente, um corpo leve, capaz de estabelecer um circuito de troca com os Nhe’e kuery.   Através das práticas no opy, assim como da repetição do nhandereko, faz-se com que a luz vital cresça, nhembopy’aguatchu, o que permite que os laços entre o indivíduo e seu Nhe’e se estreitem, aumentando a sua potência espiritual. Os conselhos do Seu Wherá Tupã para a comunidade guarani e para a equipe de filmagem eram em torno desse fortalecimento no opy, da reza, da aproximação com os Nhe’e.

 

[filmando a cura]

Opy (Foto de Maria de Oliveira, diretora de fotografia e colorista)
Opy (Foto de Maria de Oliveira, diretora de fotografia e colorista)

Foi depois de quatro anos de proximidade com essa cultura que comecei a fazer as primeiras filmagens na aldeia. Em 2017, eu havia filmado uma cerimônia de casamento no opy e a cerimônia da opydjere, também conhecida como temascal. Entre 2017 e 2018 também participei do projeto Saberes Indígenas Na Escola, integrando a equipe guarani de filmagem. A primeira cura que fiz registro aconteceu em 2018, quando fui convidado pelo Ricardo Karai Wherá, neto do Seu Alcindo, para fazer uma filmagem da cerimônia que ocorreria em sua casa, na aldeia (Yakã Rembé– Joinville -SC). Seu Alcindo, apesar de morar em outra aldeia, compareceu. No começo da cerimônia, chegou um adolescente guarani que estava com muita dor em uma das pernas e não conseguia andar, e no decorrer da noite ocorreu o trabalho de cura nele. Perguntei ao Seu Wherá Tupã se eu poderia filmar a cura, ele falou em guarani por um tempo, direcionando sua palavra às pessoas que estavam ao seu redor, e no final da fala as pessoas estavam rindo e ele também. Eu perguntei ao Ricardo o que o seu avô havia falado, ele resumiu assim: “Pode filmar a cura, mas antes de começar as imagens coloca um texto falando que nessa cura o paciente não é cortado, a cirurgia é invisível”.

Utilizei frames desses registros como parte do meu trabalho de mestrado intitulado “A MONTAGEM EXTÁTICA: Do cinema de Sergei Eisenstein aos rituais guaranis” (2019). Me toca o fato de que em 2016, no meu projeto inicial de mestrado, não imaginava que a cultura Guarani faria parte da minha pesquisa acadêmica, foi uma virada no caminho que se deu de modo orgânico, pois essa cultura já fazia parte da minha vida. Esse movimento me levou a refletir sobre a minha própria presença dentro da aldeia e fora dela, além de me incentivar a descobrir e criar uma linguagem para apresentar a realidade que se dá no opy.

Para aprender certas coisas e poder falar sobre elas, principalmente quando se está no opy, é preciso cultivar certas disposições corporais, por exemplo, a “apuração da escuta”. O karai Alcindo Wherá Tupã fala que a expressão Adjapytchaka Nhanderure (concentra-se em Nosso Pai) é a mais adequada para nomear as cerimônias que acontecem no opy. Comumente se diz “vamos rezar” quando se está no opy, com o petyngua, mas a palavra mais adequada é odjapytchaka. Geraldo Moreira e Wanderley Moreira, filhos de Wherá Tupã dizem: “mesmo os que se encontram em dificuldades para seguir o caminho, através da concentração [djapytchaka] podem receber orientações”, inclusive das estrelas: a estrela Yva “é como um fone de ouvido que consegue transmitir a voz de Nhanderu Tenonde”. Hyral Moreira disse que djapytchaka é “todo o contexto da forma de rezar, porque você está atento, ouvindo e percebendo”; apesar de traduzir-se opy por casa de reza, “na cultura Guarani nem se fala em rezar, na verdade é djapytchaka, ou seja: ouvir; a percepção de ouvir; a possibilidade de ouvir; a característica de poder ouvir e não falar; por isso que em vez de rezar, vamos ouvir, ouvir a memória”. Entendo que djapytchaka é a escuta cultivada no espaço vazio (ou, de outra forma, o espaço vazio cultivado na escuta) para a chegada da memória; é a “concentração depurada” do karai com seu petyngua; é a postura atenta para se estar no opy à escuta das divindades.

O karai, no momento em que está realizando uma cura em alguém dentro do opy, está por inteiro, não é mais a pessoa Seu Alcindo quem faz a cura, e sim o seu Nhe’e, pura luz, Wherá Tupã. Seu Alcindo Wherá Tupã é um exemplo de um Ser que atinge os altos cumes da concentração djapytchaka; sua postura despertada durante os trabalhos de cura demonstra isso, imerso na concentração djapytchaka está em contato com Nhanderu (Nosso Pai) e utiliza de uma parte da sabedoria de Nhanderu para curar.

Eu me perguntava como Seu Alcindo podia colocar a boca em doenças infecciosas que o médico não se atrevia a tocar sem proteção e que, em alguns casos, não apresentavam mais solução de cura, sem ser atingido pelas doenças? Ao fazer essa pergunta, ele respondeu que no momento da cura Nhanderu coloca luvas invisíveis nas mãos dele e uma máscara de proteção como as que os médicos usam na boca, mas, ao invés de ser por fora da boca, é por dentro; ele falava: “eu sinto a luva nas minhas mãos mas se eu te falar vocês não vão acreditar”.

 

[fogo]

Wanderley e Wherá Tupã (Foto de Maria de Oliveira)
Wanderley e Wherá Tupã (Foto de Maria de Oliveira)

A respeito do Fogo, Seu Alcindo explicou que através dele os deuses falam sobre a doença e a cura do paciente, fazendo brotar imagens como num filme na TV, às vezes nesse filme aparecem capítulos bons, outra hora ruins, nessa ocasião, Wanderley comentou que “o Fogo é o cinema dos Guarani”. Através das imagens que brotam do Fogo, ele vê e ouve o que os deuses mostram sobre o paciente e, por meio desse filme que surge nas chamas, acessa as memórias do paciente que estão associadas ao surgimento da própria doença. Contudo, na lógica guarani de conceber a cura, “saber o que o paciente tem” não quer dizer exatamente qual sintoma se manifesta em seu corpo físico, pois para eles a doença é o resultado de uma atitude nossa perante alguma coisa, é antes um estado de espírito do que um sintoma em si.

O fogo também deixa o paciente transparente, revelando o que ele tem por dentro. Wherá Tupã, com os olhos fechados, faz um raio x e descobre qual o problema do paciente, como a doença se formou, se é uma doença espiritual ou apenas física, quais as partes mais comprometidas do paciente, que nem sempre são os pontos onde se encontram a lesão e a dor.

O cineasta Sergei Eisenstein designou como útero a “agitação absoluta” na qual nascem todos os possíveis fenômenos e formas. Para ele, o fogo é como o ventre que eternamente produz vida e é onipotente. Nesse sentido, esse elemento figura a potencialidade do plasma primário do qual todas as coisas podem surgir. O fogo sugere o princípio do movimento dialético, de fluxo ininterrupto, que rege o universo. Para ele, a atratividade do fogo reside em sua infinita mudança, modulação, transitividade e contínuo vir-a-ser de imagens. Eisenstein discorreu sobre a junção do fogo com a música que não é acidental, para ele, o segredo do fascínio da música  coincide em muitos aspectos com a atratividade do fogo, pois a imagem da música não é estável, ela flui continuamente como a própria chama, eternamente mutáveis e diversas, a música está cheia dessa vida misteriosa de contornos não totalmente precisos de um objeto ou imagem que é visivelmente cativante no jogo das nuvens ou do fogo. Ela preserva a pluralidade emocional de significados em seu discurso, a pluralidade de sentidos que foi deslocada da linguagem que busca precisão, distinção e exaustão lógica; por exemplo, por meio do som de uma palavra, da inflexão que se lhe dá na pronúncia, é possível agitar a mais ampla camada de emoções e associações que tal palavra pode manifestar, transmitindo não uma concepção precisa, mas um complexo de sentimentos que a acompanham.

O estudo sobre as concepções de êxtase e montagem desenvolvidos nos filmes, desenhos e textos de Sergei Eisenstein ajudou-me a “ler” a sensibilidade apurada que se manifestava no opy, ao mesmo tempo que a cultura guarani expandiu a minha compressão sobre o cinema, montagem e êxtase desenvolvidos por Eisenstein. Acredito que se o diretor tivesse encontrado o Fogo Sagrado da cultura Guarani, certamente esse Fogo poderia figurar como precursor, antepassado, na história do cinema soviético criada por ele.

Eisenstein chamava de fenômeno cinemático a capacidade que uma força tem de se tornar tangível, de se desdobrar, através da imagem e do som, ou seja, de uma força imprimir a sua marca em um “negativo”, despertando afetos de modo sinestésico, criando um acúmulo de fragmentos e elos a serem lidos com a coexistência de vários tempos interagindo entre si, bem como com o surgimento de uma nova imagem que nasce com o ressoo ou o choque das imagens que o artista foi capaz de evocar, pelas escolhas dos detalhes, na imaginação, no intelecto e na emoção do observador. É importante ressaltar que para Eisenstein isso não é apenas um fenômeno primário da técnica cinematográfica, é antes de tudo um fenômeno primário da capacidade da mente humana de criar imagens.

Penso que a relação de contato, de comunicação dos Guarani com os Nhe’e, pode ser lida como uma montagem, e que essa relação com o Nhe’e torna-se mais consistente para aqueles que têm a sensibilidade mais apurada e desenvolvida, como os karai e kunhã karai. Some-se a isto que a sensibilidade mais apurada se torna apreensível na maneira, por exemplo, de relacionar-se com os quatro elementos (água, terra, fogo e ar). Seu Alcindo Wherá Tupã diz que os Guarani são os guardiões do Fogo Sagrado, já ouvi algumas vezes na cerimônia que havendo qualquer dúvida, necessitando de alguma ajuda, não é preciso recorrer às lideranças do rito, basta recorrer diretamente ao Fogo e atentar para o que os Nhanderu hão de mostrar.

Os Nhe’e, enviados de Nhanderu, dão notícia de cada um que se encontra nas aldeias espalhadas sobre a Terra, assim os karai ficam sabendo como as pessoas estão vivendo, se estão precisando de alguma ajuda. Muitas vezes, nos sonhos ou durante a concentração, a liderança espiritual recebe imagens de eventos que ainda estão por acontecer nesse plano material. O Nhe’e tem capacidades impossíveis para nós no corpo físico, a de caminhar esse universo em questão de segundos e a de estar em vários lugares do universo, em simultâneo. Esses movimentos dos Nhe’e são percebidos como insights, imagens e sons que surgem e que muitas das vezes não se conseguem explicar, imagens que geralmente, como Wherá Tupã contou, surgem através do Fogo Sagrado que está diretamente conectado com Nhanderu.

Transcrevo abaixo uma fala do Wanderley sobre o filme:

“Gratidão, assim pedindo licença ao Nhanderu Tenonde, ao nosso Pai Criador. Pedindo licença ao Seu Wherá Tupã, aos guardiões das quatro direções, aos espíritos que mantiveram essa essência, essa cultura, essa sabedoria, esse ensinamento, pedindo licença para que eu possa falar um pouco desse documentário, da convivência junto ao Seu Alcindo Wherá Tupã, falando um pouco desse filme, que foi produzido com muito cuidado, muito trabalho, muita paciência. Agradecendo muito ao Seu Wherá Tupã, que é o protagonista desse filme, mostrando o seu ensinamento, mostrando a sua sabedoria, nos ensinando tudo aquilo que ele aprendeu, mostrando o caminho. Esse filme fala um pouco da sua vida, do seu trabalho, mostrando o seu dia a dia, a vida do Seu Alcindo Wherá Tupã, o trabalho que ele faz com as pessoas fazendo cura, ensinando as pessoas e nós que estamos ao redor dele, estamos aprendendo aos poucos. Leva muito tempo para poder absorver todos esses ensinamentos que Seu Wherá Tupã vem passando para a gente, eu como filho, ainda estou aprendendo, eu ainda estou tentando compreender a minha existência e esse filme fala um pouco da vida dele, mais de 80 anos fazendo esse trabalho.

Também o porquê desse filme, hoje são tão poucos os que mantêm ainda essa cultura, essa essência, essa convivência de estar dentro da cultura, dentro do templo sagrado que é o opy. Existem poucos anciões que ainda mantêm essa sabedoria, têm poucos anciões que ainda repassam esses ensinamentos aos netos e filhos e esse filme fala também do Fogo Sagrado. Esse Fogo Sagrado que hoje o Seu Alcindo mantém aceso há mais de 20 anos. Esse filme fala de como é o trabalho do Seu Alcindo, a cura, mostrando um pedaço do trabalho dele. Isso também é uma mensagem, esse filme leva essa mensagem para as gerações que estão vindo, que essas gerações possam ver e sentir esses ensinamentos. Gratidão por fazer parte desse filme, de poder eu estar falando sobre o filme, agradecendo o Seu Wherá Tupã, agradecendo todas as pessoas que estiveram envolvidas nesse projeto, nesse filme. Há’evete. ”

No curta “Wherá Tupã e o Fogo Sagrado” a voz do protagonista coloca o filme em movimento. A palavra do ancião se desloca atravessando distintos espaços-tempos da narrativa. Os movimentos de câmera, no guimbal e no drone, emprestam um corpo-leve para a voz-off do ancião, presença invisível, que como os Nhe’e sobrevoam a aldeia e a mata, se deslocam pelo opy, se comunicam, com aqueles que sabem ouvi-los, através de associações entre imagem e som, forças que transmitem pensamento e sentimento.

Wherá Tupã fala, canta, faz curas ao redor do fogo. Na montagem exploramos esse elemento como um nascedouro das imagens: várias transições entre cenas e planos no filme se deram partindo do fogo, ou retornando até ele.

Os elementos da natureza como o fogo, a neblina, a fumaça das ervas de defumação subindo, o sopro da fumaça do tabaco, o curso das águas do rio e da chuva, o som do trovão, os raios do sol que penetram o teto do opy e tocam o chão, são manifestações das divindades. Pretendemos, através da montagem cinematográfica, criar uma série de associações onde esses elementos são exaltados à categoria de fenômenos majestosos.

Estudo de luz, no opy, para cena de abertura do filme. Na foto, Lipe Tortoro e Caroline Mariga (Ass. Direção) (Foto de Rafael Coelho)

Os movimentos de câmera e a montagem buscam realçar um “eixo de verticalidade” que envolve a relação entre as divindades e os homens, circuito de troca entre os Nhe’e e Seu Alcindo Wherá Tupã. Esse circuito pode ser percebido já na escrita do argumento, no modo de apresentar os elementos naturais que compõe o espaço e estão em relação com o protagonista em sua prática diária enquanto liderança espiritual. Apresento aqui um trecho do argumento, a cena de abertura do filme:

O filme começa com o exterior do opy e o seu teto completamente alinhado com o sol à pino. Ouvimos a voz de um senhor bem velhinho, entoando os nhe’e porã (“belas palavras-almas”). Quem evoca essa reza estabelecendo um diálogo com as divindades é o Seu Alcindo Wherá Tupã (karai de 108 anos de idade). Enquanto ouvimos sua reza, com a respectiva tradução, e percebemos o modo como ele se relaciona com as divindades, é apresentado o interior da opy por meio de imagens. Essas imagens são: o fogo em sua transformação incessante no centro da opy; os raios de sol atravessando o teto de taquaras (bambu), deixando sua marca por entre a fumaça que sobe; as ervas de defumação sendo queimadas no braseiro, no chão; uma mão, cuja pele revela a idade avançada, segurando bem firme o petynguá (cachimbo), no qual vê-se esculpida uma águia; uma bengala de madeira esculpida com o rosto de alguns animais. Intercalado a essas imagens, temos imagens de alguns instantes de um trabalho de cura que ocorre a noite dentro da opy. Por fim, vemos o rosto da pessoa que está evocando o canto, Seu Wherá Tupã em djapytchaka (meditação), com o seu cocar na cabeça, sentado em um banquinho de madeira, com a coluna ereta tal qual o fogo que está a sua frente. Seu Wherá Tupã cessa o canto, coloca o petyngua na boca, e sopra a fumaça; imediatamente os raios do sol tornam-se acentuados ao atravessarem a fumaça. O nome do filme aparece formando-se sutilmente junto à fumaça.

A cena de abertura mudou a sua forma durante a montagem do filme preservando a base conceitual que se manifesta na poética do argumento. O que se manteve é uma atmosfera de mistério e encantamento ao apresentar o Seu Alcindo Wherá Tupã e o circuito de troca com as divindades através dos objetos rituais como o petyngua, o espaço do opy, a concentração-meditação (djapytchaka), a relação com os elementos (o fogo, a fumaça, os raios de sol) e o Nhe’e porã (belas-palavras-almas) cantadas em um guarani muito antigo cuja a linguagem atualmente está deixando de ser utilizada.

Há uma grande dificuldade em se conseguir traduzir as Nhe’e porã, pois quem tem a sabedoria dessa linguagem são os karai, que, comumente, também são anciões. Além disso, hoje, muitos Guarani e djurua não têm a experiência de ouvir as Nhe’e Porã e saber o que está sendo proferido nessas palavras, apenas sentem a força e o impacto delas. Somado a isso o trabalho de traduzir uma grande quantidade de falas em guarani captadas durante as filmagens, optamos, junto ao tradutor Wanderley, por não traduzir esses cantos.

O canto Nhe’e Porã é uma conversa direta com as divindades, são palavras que Alcindo Wherá Tupã está proferindo e ao mesmo tempo palavras que os Nhe’e estão dizendo para quem sabe ouvi-los. No argumento, a cena de abertura no opy se desenvolve junto às Nhe’e porã com a sua respectiva tradução, na etapa de montagem do filme essa cena foi modificada, usamos a voz-off do ancião extraída de uma fala ao redor do Fogo que ocorreu na casa do protagonista, ele não estava conversando diretamente com as divindades (igual acontece com as Nhe’e Porã), mas com seu filho Wanderley, que estava ao seu lado naquele momento. Nessa fala, Seu Alcindo Wherá Tupã “apresentava” a condição dos Guarani na atualidade e também a relação cultivada com as divindades no dia-a-dia e nos trabalhos espirituais como a cura, até coadunar seu pensamento em algo que o ancião nomeou como “o caminho do Fogo Sagrado”, momento em que a voz-off do ancião cessa e o canto Nhe’e Porã, que se iniciou sobre a voz-off, cresce até tomar conta de toda a cena. Em meio aos raios de sol, na fumaça do fogo e dos defumadores, aparece o nome do filme “Wherá Tupã e o Fogo Sagrado”, junto ao barulho do trovão e a imagem e som do Wherá Tupã cantando os Nhe’e Porã.

A presença dos elementos da natureza contribuiu com uma aura mágica e potente devido a sua capacidade metamórfica, de constante movimento e alterações de estado físico, por exemplo de uma pedra de defumação tornar-se fumaça. O som do filme potencializa a presença e transformação dos elementos na cena, assim como o barulho de animais da floresta do lado de fora do opy. A cena de abertura no opy ficou carregada por uma tensão dinâmica entre momentos de luz e sombra, ressaltando o movimento, até culminar no ápice da presença dos raios de sol atravessando a fumaça do fogo e dos defumadores, envolvendo Wherá Tupã com um brilho de luz em constante transformação de suas formas. Esse ápice na cena ocorre depois de 4 minutos do início do filme, no momento do canto-reza-conversa Nhe’e Porã.

Gostaria de agradecer a toda a equipe, formada por amigos e amigas, que levantou esse filme, ao Seu Alcindo Wherá Tupã e sua família pela confiança e abertura, às divindades ancestrais dos Guarani por permitirem que esse trabalho fosse realizado e por nos conceder o alento diário para seguirmos em frente. Não me deterei, nesse texto, em comentar sobre as outras cenas do filme, algo que poderia ser feito para falar sobre os momentos da cura que compõem a maior parte do filme. Quero agradecer também a Marcelina, guarani neta de Seu Alcindo, encarregada da principal câmera no momento da cura, sua presença na equipe, além de aumentar a relação de reciprocidade com os guarani naquele espaço e de contarmos com a sensibilidade de quem conhece bem aquela realidade, permitiu com que a câmera fosse posicionada no tripé em um lugar que talvez nós, como djurua, não teríamos permissão para ficar, que é de frente ao Fogo, alinhado com o paciente que estava sentado no banquinho para ser curado por Wherá Tupã.

O filme Wherá Tupã e o Fogo Sagrado foi produzido pela produtora Filmes do Fogo, estamos preparando o material de divulgação e em breve iremos colocar o filme no circuito de festivais.  O filme será distribuído também através de um pendrive, contendo um material extra, para 12 aldeias guarani do estado de Santa Catarina, assim como para o Museo de Arqueologia Indígena da UFSC, a Biblioteca Universitária da UFSC e UDESC e o curso de licenciatura indígena da UFSC. O filme será exibido em duas aldeias, Yynn Moroti Wherá em Biguaçu, e em Mymbá Roka (também conhecida como aldeia do Amaral), onde o Seo Wherá Tupã  atualmente mora, e onde ofereceremos uma oficina de cinema de uma semana, que ocorrerá depois que a comunidade for vacinada contra a Covid-19.

A montagem do filme foi feita toda durante a pandemia, foi um processo solitário e não envolveu tanto a participação dos Guarani devido à impossibilidade de acessar a aldeia nesse contexto. Consegui, através de um dentista da SESAI chamado Marcelo França (ele trabalha com os Guarani de SC há mais de 30 anos e também participou do filme), que o Seu Wherá Tupã e algumas pessoas de sua família conseguissem assistir ao filme através de um notebook que o Marcelo levou. Esse acontecimento foi muito forte para eles, Wherá Tupã gostou muito e Wanderley comentou que o filme “conseguiu mostrar a situação atual dos guarani”.

 

[glossário]

Opy: Normalmente traduzido como “casa de reza”, é o espaço onde os Guarani se reúnem no final do dia para se concentrar, pedir fortalecimento e saúde aos Nhanderu e aos nhe’e, para cantar e dançar, desse modo livrando os corpos de diversas moléstias, para fumar os cachimbos e conversar com os seres divinos ou tratar pessoas doentes. É um espaço ritual, um lugar de acolhimento e resguardo para toda a comunidade. É também no opy que os mais velhos passam conselhos sobre a vida e os cuidados necessários com ela aos mais jovens.

Karai: Especialista ritual que tem a capacidade de tratar problemas de saúde física e espiritual. Ele também reza para as divindades na “casa de reza”, opy, pedindo às divindades (Nhanderu) e aos nhe’e que cuidem dos seres humanos aqui na Terra.

Kunhã karai: A mulher karai.

Nhe’e: Princípio anímico de origem celeste. Eles descem à Terra provenientes das regiões onde moram as divindades Guarani, os Nhaderu kuery. São eles que erguem o corpo sobre a Terra e o fazem caminhar e é neles que se encontra a palavra, a possibilidade de fala.

nhe’e rete: conjunção entre corpo e o nhe’e.

petyngua: cachimbo sagrado usado com o tabaco, geralmente dentro do opy, para se conectar com as divindades, aconselhar as pessoas e fazer curas.

djurua: Nome dado aos não indígenas, especialmente aqueles que se caracterizam por um estilo de vida marcado na chamada civilização ocidental.

Nhanderu: Literalmente “nosso pai”. Nhanderu Tenonde, o primeiro Nhanderu, é a principal divindade na cosmologia Guarani. Foi ele que gerou os chamados Nhe’e Ru Ete, pais verdadeiros dos nhe’e. São eles: Nhamandu, responsável pela vinda do sol a cada dia (às vezes é chamado Pa-Pa Tenonde); Karaí, que cuida do fogo; Djakairá, o dono da fumaça dos cachimbos e Tupã, responsável pelas águas, pelas chuvas e pelo mar. Cada um deles habita uma determinada região celeste, junto a suas mulheres as Nhandexy kuery, “nossas mães”, e seus filhos, que são os nhe’e.

nhandereko:   nhande = nosso, reko = costume, sistema, regra; faz referência ao sistema de vida dos Guarani, incluindo seus modos de organização social, as regras de comportamento que possibilitam a boa convivência, os conselhos dos mais velhos, a alimentação saudável, os modos de vivenciar tempos e espaços, o respeito às outras formas de existência.

marã e’ỹ: condição divina da existência, imperecível.

ayvu: linguagem humana, palavra.

nhembopy’aguatchu: crescer a luz vital, estreitando os laços entre o indivíduo e seu Nhe’e, aumentando a potência espiritual.

opydjere: a tradução literal é casa de reza redonda, local onde acontece cerimônias com as pedras quentes. Em outra tradição essa cerimônia também é conhecida como temascal.

djapytchaka: estado de presença, estar atento escutando e percebendo, rezando, conectado às divindades.

Boa parte dessa Glossário foi extraído do livro: DARELLA, M. D. P. et al. (Org.). Tape mbaraete anhetengua = Fortalecendo o caminho verdadeiro. Florianópolis: [s.n], 2018.

Rafael Coelho

Pai e artista; Bacharel em cinema (UFSC, 2015); Mestre em Literatura (UFSC, 2019), em seu trabalho pesquisou as diversas manifestações do “êxtase” que atravessam as artes em diferentes tempos e espaços. Há 8 anos aproximou-se do povo Guarani, desenvolvendo projetos junto a eles. Diretor e editor de imagem e som do curta-metragem: “Wherá Tupã e o Fogo Sagrado” (2021). Artista e fundador do coletivo e produtora audiovisual Filmes do Fogo (2021). Artista integrante da Tribo Pachorra Teatro Livre.

9 comentários em “Processo criativo do curta “Wherá Tupã e o Fogo Sagrado” (2021)”

  1. Rosemary Samartino Herran

    Quem pôde acompanhar todo esse processo, mesmo sem compreender toda a realidade existente, é capaz de avaliar a seriedade, a competência e o amor dispensado pelo Diretor Rafael Coelho na concretização desse curta. Minha admiração pela pessoa e pelo profissional que irá levar ao Mundo a importância de unirmos forças, conhecimentos e ação para tornarmos o Mundo melhor. Parabéns e sucesso!

  2. Parabéns pelo texto. Uma experiência incrível que você teve em estar próximo dos indígenas. Inclusive, de conhecer a cultura deles e conseguir extrair informações para elaborar seu filme. Torço pelo seu sucesso.
    Abraços

  3. Primeiro, parabéns a revista, que possibilita um importante espaço para a divulgação dos trabalhos de jovens cineastas e nos permite conhecer as complexidade contidas além das imagens.
    É impressionante o carinho com que Rafael se envolveu em busca de compreensão com a cultura guarani, para que pudesse captar com sensibilidade as mensagens e conhecimentos deste velho cacique, que vê esta cultura se deteriorando com o tempo e quebrando nesta idade barreiras, permitiu registrar estes momentos de êxtase.

  4. Excelente texto! Ainda não tive a oportunidade de assistir o filme mas pelo que se nota em termos de conceito, fotografia está tudo muito bom! Não imaginamos onde aquela visita ao Opy dos Xavante iria nos levar. Parabéns Rafa, familia e toda equipe. Viva o povo Guarani!

  5. Parabéns a revista pelo conteúdo, os bastidores das filmagens.
    Parabéns Rafael Coelho, que com grande sensibilidade conseguiu expressar o lamento do chefe guarani. Trazendo este filme para abrir os olhos das pessoas e levar a todos, como levou a mim luz, conhecimento e cultura.
    Raquel Andrade
    Frutal-MG.

  6. Vanessa Rosa Gasparelo

    Nossa, Rafa!! Acho que, se há algo que expõem a arte na sua forma mais íntegra e profunda, acredito que tem a ver com toda a escrita, escuta, experiência, troca, convivência, respeito, amor e dedicação envolvidos neste projeto. Houve muita abertura aí, né!?
    Bem feliz aqui por ler o seu texto e curiosa demais pra ler a sua tese e ver o filme. Parabéns por tudo! Principalmente pela sensibilidade, espiritualidade e consciência! Levarei, em especial, este recorde “na cultura Guarani nem se fala em rezar, na verdade é djapytchaka, ou seja: ouvir; a percepção de ouvir; a possibilidade de ouvir; a característica de poder ouvir e não falar; por isso que em vez de rezar, vamos ouvir, ouvir a memória”. Entendo que djapytchaka é a escuta cultivada no espaço vazio (ou, de outra forma, o espaço vazio cultivado na escuta) para a chegada da memória; é a “concentração depurada” do karai com seu petyngua; é a postura atenta para se estar no opy à escuta das divindades.”
    Agradeço demais a leitura! 🙏🏽

  7. William Wollinger Brenuvida

    Rafael, boa tarde
    Estou escrevendo uma dissertação que envolve a Aldeia Yynn Moroti Wherá (M’Biguaçu), e gostaria de bater um papo com você. Vou deixar meus contatos: (48) 991840013 e acangatu@gmail.com

    Abraços,
    William

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